O livro Projeto Phoenix é bom, mas está longe de ser perfeito. Ele erra, mas no geral é um livro que tem mais acertos do que erros e vale a pena.

Início Confuso

O livro inicia rapidamente com a promoção de Bill, introduzindo Steve como uma figura incrivel, digno de ser seguido aonde quer que ele vá. No começo, o livro tropeça em elaborar os motivos que levaram Bill a aceitar a promoção, inicialmente ele demonstra medo do cargo, pois todos que ocuparam não passaram de 2 anos. E o livro mostra como Steve "forçou" a promoção, por ser extremamente persuasivo.

A promoção para um cargo de maior responsabilidade e risco não deve ser analisada apenas sob a ótica do risco de perda de emprego. Ascender na hierarquia de uma grande corporação é mais um voto de confiança do que uma mera constatação de habilidades gerenciais acumuladas ao longo de uma década de trabalho. A dinâmica corporativa é mais complexa e vai além disso.

A decisão de Bill também poderia ser avaliada considerando seu contexto familiar. Uma posição de maior responsabilidade em uma empresa sob pressão por resultados pode causar impactos significativos na vida pessoal, como problemas no casamento, na relação com os filhos, e até mesmo no gerenciamento de seu próprio estresse. Embora sejam conjecturas, são elementos que poderiam enriquecer a trama e o debate sobre promoções para cargos de pressão.

Além disso, Steve manipula Bill. Ele faz isso ao lembrar um projeto de cinco anos atrás e mencionar os dias no exército. Dada sua posição, seu poder como CEO e conhecendo o histórico militar de Bill, a manipulação de Steve é precisa.

Somos apresentados à nova equipe de Bill e, no primeiro momento, temos a impressão de que eles vão ser um grande problema para ele, pois os conflitos iniciais nos levam a essa conclusão. Bill faz várias observações no iniio do livro, como o prédio antigo, depois visualiza grande parte da TI se deslocando para outros prédios para atender projetos nesses prédios. Isso sugere que haverá soluções para esses problema, como a ideia de squads multidisciplinares. E no fim, não há uma discussão sobre essas observações iniciais.

O livro começa introduzindo a família de Bill em doses homeopáticas e trabalha melhor o tema no final. Seria mais eficaz se essa dinâmica tivesse sido adotada desde o início, o que ajudaria a empatizar com Bill. No começo, ele parece um personagem com problemas de autoestima buscando autoafirmação e reconhecimento.

Problemas Empresariais

A primeira parte do livro nos conduz para os problemas da empresa. Há muitos problemas. O autor foi extremamente eficiente em nos conduzir por um ambiente caótico. Quem for mais velho e com bastante tempo na TI vai se identificar com o ambiente construido no livro. É perfeitamente possível dizer: Eu já trabalhei nessa empresa.

Apesar do começo confuso, a partir do capítulo 4, após resolverem o problema da folha de pagamento, o livro se concentra na narrativa e não perde tanto o foco com detalhes irrelevantes, como se o prédio é novo ou velho.

A narrativa desse ambiente nos deixa ansiosos, pois já trabalhamos em ambientes similares e temos uma noção de como resolver grande parte desses problemas. E queremos logo o desfecho dos acontecimentos, as decisões técnicas. Ou seja, prende a atenção.

Problemas de Relacionamento

De maneira geral os problemas de relacionamento não são um problema no livro. É muito fácil identificar algumas pessoas que já trabalhamos na pele de um ou outro ali. Embora de maneira geral representem bem os conflitos de ego, eles são problemáticos em certas situações. Wes, por exemplo, num primeiro momento liga para sua equipe com Bill ao lado e diz: Como já sabem, a minha promoção não vai sair tão cedo. Ele diz isso logo após ter confrontado as habilidades de Bill.

Um dia depois, Wes se torna o braço direito de Bill.

Steve é retratado como um semi-deus nos capítulos 1 e 2, para então subitamente terminar a primeira parte do livro como o vilão. A mudança abrupta de comportamento pode ser desconcertante.

No entanto, é importante lembrar que quem narra o livro é Bill, portanto pode ser uma visão idealizada dele sobre Steve. Não podemos ter certeza, mas é estranho.

Atalhos

Erik é um atalho, um guru que aparece para dizer as palavras certas ou criar as dúvidas corretas ou corrigir problemas de percurso. Quem já assistiu Caverna do Dragão, podemos compara-lo ao Mestre dos Magos. O livro poderia existir tranquilamente sem ele, poderia ser personificado através de um MBA junto de um processo de descoberta solo de Bill.

Outro atalho é o pedido de demissão de Bill, um ponto mal trabalhado. O autor aborda o tema da família após a demissão, dando uma ênfase no salário e nas consequências que a decisão de Bill de pedir demissão causa sobre sua família. Bill é retratado em uma situação muito semelhante à de muitos de nós: filhos para criar, contas para pagar, uma casa financiada, além de ser responsável pelas despesas de escola e planejamento do futuro de seus filhos.

Será que é possível pedir demissão e ainda assim dormir tranquilamente durante quatro dias? Apenas em um romance. Na vida real, alguém em tal posição e em plena consciência não iria dormir tranquilo após pedir demissão. No melhor dos casos, estaria simplesmente substituindo a preocupação de "Como vou lidar com esse chefe difícil?" por "Como vou pagar as contas do próximo mês?".

No mundo real, estou certo de que é muito fácil decidir qual dos dilemas enfrentar.

Esse trecho é um atalho para que Bill volte à empresa como um herói. Sua ausência permite que Steve cometa erros, e seu retorno triunfante estabelece uma nova dinâmica de respeito e reconhecimento em seu favor.

Solução Demorada e Arrastada

Logo após o retorno de Bill para a empresa, o livro começa a se arrastar, as soluções demoram para acontecer, uma sequência de diálogos deixa o livro um pouco cansativo. É como aquela série que é empolgante no começo, mas no final já está ficando chata, mas você ainda assiste para descobrir o final. O livro tem 35 capítulos, dos quais o episódio de John bêbado e o drama final envolvendo Sarah poderiam ser descartados sem prejuízo para a trama. Se eliminarmos os diálogos que não levam a lugar algum, poderíamos reduzir para cerca de 28 capítulos tranquilamente.

Linha Temporal Confusa

Há um problema na progressão temporal, alguns eventos ocorrem muito rápido. Por exemplo, pela manhã Bill pede que ninguém fale com Brent, e à tarde as mudanças em produção caíram 60% por essa decisão. Além disso, as mudanças súbitas de comportamento também podem ser perturbadoras. Wes, no primeiro dia, é um troglodita; no segundo, um cavalheiro.

Steve aceita a demissão de Bill no sábado à noite, cinco dias depois faz uma reunião pedindo desculpas para todo mundo e dizendo que tem grande parte da culpa pelo que está ocorrendo.

John é um alcoólatra numa semana, dorme no sábado bêbado, acorda no domingo, marca reunião com o COO e na segunda-feira está com a aparência de um monge, renovado. Lembro-me de ter pensado nesse momento: Da próxima vez que meu chefe disser que meu projeto não serve para nada, vou fazer igual ao John. Faltar uma semana inteira, passar os dias em festas, ligar para ele sábado à noite convidando para a última rodada de drinks e no dia seguinte marcar uma reunião com o vice-presidente. Não tem como isso dar errado.

A implementação bem-sucedida de Kanban leva mais do que uma semana, no livro acontece em uma manhã. Uma estratégia leva mais tempo do que um mês para surtir efeito, no livro eles colhem frutos em uma semana.

Conclusão

O livro é ruim? Não. É perfeito? Não. Ele é muito bom, introduz uma boa trama empresarial. Nos faz lembrar dos dias sombrios de implantação de sistemas que causavam separação de casais, pais ausentes e todo tipo de problema familiar. Ele é hábil nessa construção e tem mais méritos do que falhas. Os primeiros 17 capítulos são incríveis, os últimos 18 um pouco cansativos, mas definitivamente vale a pena.

Se tivesse que dar uma nota de 0 a 10, ele levaria uns 7.5.